Pode uma só sopa conter ingredientes de uma horta, de um prado, de um pomar e de uma floresta? Durante um ano, vimos as estações passar e estudámos as relações visíveis e invisíveis entre coisas, vivas e não vivas, nos terrenos em torno da Adega. Especulamos discursos sobre as agências entre espécies, incluindo-nos a nós, no meio de tudo isto. Esta viagem levou-nos a estabelecer modos de relação e de produção integrados no que nos
rodeia. De um ponto de vista técnico, ético e poético, provocamos a nossa posição.
AROMÁTICAS DIPLOMÁTICAS
Plantas espontâneas, que completam o seu próprio ciclo de reprodução. Emergem da semente, crescem vegetativamente, criam flores, recombinam genes, e produzem novas sementes.
POMAR INTERCONTINENTAL
Abaixo da nespereira, há duas laranjeiras; Citrus x sinensis, que, como indica o nome, têm a sua origem numa região algures entre a China e a Índia. Durante a expansão árabe, a laranjeira foi introduzida na europa, com particular sucesso na península ibérica e, durante as expansões marítimas, seguiu para o continente americano com a colonização no século XVI.
DISRUPÇÃO INTENCIONAL
Talvez mais do que tudo, a escala importa. A escala prende-se com o tempo; com o tamanho dos ciclos; com a velocidade dos processos. A horta é um laboratório de domesticação.
TRAMA ARBUSTIVA
O que é que uns e outros querem? Que interesse têm para a vida a longo prazo? Como é que reagem à dureza dos invernos e aos verões quentes? Tudo isto importa, pois a política feita no solo, entre as raízes de cada planta, vai privilegiar e beneficiar grupos diferentes dependendo de como forem geridos os recursos.
OCUPAÇÃO OUTONAL
Parte do sucesso oportunístico das trepadeiras é a sua forte sazonalidade, sendo capazes de ir das folhas às flores e aos frutos em poucos meses. Cada uma das espécies aqui presente aproveita uma altura diferente do ano para fazer esse crescimento explosivo, e então não compete desnecessariamente por luz.
ENCONTROS CIVILIZADOS
Para segurar as margens, plantaram-se várias espécies de arbustos de bagas e pequenos frutos como groselhas, framboesas e amoras. Como numa das esquinas do campo havia já um manto de girassóis (Helianthus annuus), introduzimos o tupinambo (Helianthus tuberosus); um girassol que produz tubérculos comestíveis, parecidos com batatas, mas mais nutritivos e comestíveis até em cru.
CARVALHAL
A enorme discrepância na qualidade nutricional de dois alimentos - um proveniente de uma floresta, outro, de um campo de cultivo em regime industrial - está presa ao facto de que as florestas são ecossistemas obrigatoriamente dominados por fungos.