Entrado
O início deste projeto surge em Setembro de 2009 resultado do encontro de vontades da PELE, do Centro de Criação para Teatro e Artes de Rua/Festival Internacional de Teatro de Rua - Imaginarius e do Estabelecimento Prisional do Porto (EPP). Ao longo deste processo, com um grupo de cerca de 30 reclusos, foi possível desenvolver um espetáculo com base na pesquisa das suas histórias, memórias, corpos e vivências destacando-se e valorizando-se as possibilidades da sua (re)escrita.
ENTRADO, espelho das vontades dos reclusos, propõe ao público um percurso por alguns dos espaços do EPP revelando sensações, obstáculos, experiências, percepções sobre a vivência de um contexto prisional. De uma forma sintética, o espetáculo fala de vidas antes de entrarem na prisão, do momento em que entram na prisão, das passagens pela prisão e da saída, real ou imaginada. A proposta é seguir estes trajetos tocando nas dimensões da culpa e do perdão como incontornáveis na vida.
“E então? O que é que fica?
Tenta o arrependimento – que é que ele não consegue?
Mas o que há-de conseguir, se eu não me arrependo?
...
Ó alma agrilhoada, que ao tentares libertar-te
Ainda ficas mais presa; vinde, anjos, ajudai,
Dobrai joelhos teimosos, e tu, coração de aço,
Sê antes doce e frágil como um recém-nascido –
Pode acabar em bem.”
in Hamlet, Shakespeare
ENTRADO – gíria prisional que se refere ao indivíduo que acaba de entrar na prisão. Pelas palavras dos atores: “ o acabado de chegar”, “o que não se pode esticar naquilo que diz”, “ o que está sempre à espera”, “o que tem que marcar território”.
ENTRADO invade dois mundos, dois lados, dois territórios impossíveis de colocar em diálogo. A escolha faz-se apenas por um. O bem e o mal, o preto e o branco, o dentro e o fora, conjugados e vividos por um ENTRADO, que entrou, que deu entrada, adjetivo de transmissão e passagem, com acesso ao melhor e ao pior do território de cada um. O ENTRADO mergulha na outra vida, olha diretamente os muros labirínticos, mastiga-se no binómio culpa-perdão ansiando uma enevoada esperança de que afinal “pode acabar em bem”.
Este espetáculo é o resultado de uma catarse coletiva sobre o erro e o seu perdão, a fragilidade do ser humano e a inevitabilidade de o pecado estar ao alcance de qualquer um em qualquer tempo e espaço. No caminho sente-se o esforço, a carga, a regeneração, a mudança pautada por silêncios e colada à miragem de liberdades desejadas por garças (tsurus). Nas prisões interiores lavam-se culpas e olha-se em volta, o que fica afinal?
Info
Apresentações:
Criação coletiva
Interpretação: Abel Sousa; André Martins; Emanuel Muzio; Hélder Oliveira; Hilário Bandeira; Jorge Jeremias; Luís Silva; Fernando André Santos; Francisco Alves; Mário Faria; Nelson Oliveira; Nuno Bastos; Nuno Oliveira; Pasquale Letizia; Paulo Costa; Paulo Oliveira; Pedro Paiva; Rui Velho; Vítor Vieira
Conceção e Direção Artística: Hugo Cruz
Assistência de Direção: Maria João Mota
Direção Musical: Artur Carvalho
Música: "The Other Face" - Banda Rock do EPP: José Alves; Luiggi Rausch; Nuno Puskas; Paulo Leal; Pedro Marinho: Coro – "Ala dos Afinados" (colaboração Serviço Educativo da Casa da Música).
Direção Musical do Coro: Jorge Prendas / Gil Teixeira
Acordeão: Arnaldo Gonçalves Fonseca
Guitarra: Gil Teixeira
Músicas: ”Eu Não Me Entendo”, Letra: José Luís Gordo, Música: José Mário Branco; “Mano a Mano”, Composição: Carlos Gardel, José Razzano, Celedonio Flores; “O Corpo É Que Paga”, Composição: António Variações.
Tradução do Texto "Hamlet": Maria Hermínia Brandão
Desenho / Operação de Luz: Fernando Coutinho
Som: Marco Jerónimo
Vídeo: Alberto Almeida; João Tiago Silva
Dança Vídeo: Amélia Carneiro; Emanuel Muzio
Figurinos / Adereços: EPP e PELE
Registo Fotográfico: Paula Preto
Coordenação do EPP: António Machado Soares (Diretor); Sofia Canário (Adjunta Diretor); António Quadrado (Chefe Corpo de Guardas); Ana Gomes; Ana Silva e Jorge Teixeira (Técnicos Superiores).
Avaliação Externa do Projeto: Natália Azevedo (Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (DS-FLUP) e investigadora do Instituto de Sociologia da mesma instituição (IS-FLUP))
Produção Executiva: Artur Carvalho, Maria João Mota e Hugo Cruz
Coprodução: PELE_Espaço de Contacto Social e Cultural; Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua; Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira.
Apoios: EPP / Casa da Música